Vi uma garota comentando que por mais que concordasse com muitas das pautas feministas, não se afirmaria feminista porque não queria forçar um rótulo para si mesma. Porque não era adepta de extremismos. E então eu comecei a refletir sobre a opinião dela.
Primeiro, eu me perguntei algo bem básico: por que o feminismo é visto dessa maneira? Por que as pessoas mentalizam as feministas como mulheres que ficam vociferando o dia inteiro contra o patriarcado? Por que as pessoas se incomodam tanto com as nossas postagens diárias sobre cultura de estupro e violência doméstica? Por que as pessoas nos consideram extremistas e não querem ser associadas conosco? Por que, pergunto eu, as pessoas acreditam piamente que nós não temos humor, nem temos uma vida própria? Por que essa garota que não é uma garotinha de treze anos, mas praticamente uma mulher trabalhadora, que inclusive é a favor da liberdade sexual e direito ao aborto, por exemplo, não quer ser associada ao feminismo?
Eu acho importante que o próprio movimento se faça essas perguntas. Considero pertinente que se levante a questão de como somos vistas pela sociedade e qual é o real esclarecimento que as pessoas tem da gente. É óbvio que muito disso é má vontade. Existem milhares de blogs, sites e fontes sobre feminismo, suas correntes ideológicas, suas pautas, suas histórias, suas reivindicações. Temos militantes feministas que falam em tom mais suave e outras que berram suas lutas. Existe feminismo de tantas maneiras que alguém, que possui acesso à informação, afirmar que feminismo é algo "extremista" acaba sendo ignorante sim.
Mas ainda assim: é válido questionar se os outros - por outros, entenda-se todos que não compreendam o feminismo - estão recebendo a nossa mensagem direitinho.
O quanto da resistência contrária ao feminismo é má fé? O quanto é apenas ignorância? Como poderíamos nos ajudar?
Primeiro, eu me perguntei algo bem básico: por que o feminismo é visto dessa maneira? Por que as pessoas mentalizam as feministas como mulheres que ficam vociferando o dia inteiro contra o patriarcado? Por que as pessoas se incomodam tanto com as nossas postagens diárias sobre cultura de estupro e violência doméstica? Por que as pessoas nos consideram extremistas e não querem ser associadas conosco? Por que, pergunto eu, as pessoas acreditam piamente que nós não temos humor, nem temos uma vida própria? Por que essa garota que não é uma garotinha de treze anos, mas praticamente uma mulher trabalhadora, que inclusive é a favor da liberdade sexual e direito ao aborto, por exemplo, não quer ser associada ao feminismo?
Eu acho importante que o próprio movimento se faça essas perguntas. Considero pertinente que se levante a questão de como somos vistas pela sociedade e qual é o real esclarecimento que as pessoas tem da gente. É óbvio que muito disso é má vontade. Existem milhares de blogs, sites e fontes sobre feminismo, suas correntes ideológicas, suas pautas, suas histórias, suas reivindicações. Temos militantes feministas que falam em tom mais suave e outras que berram suas lutas. Existe feminismo de tantas maneiras que alguém, que possui acesso à informação, afirmar que feminismo é algo "extremista" acaba sendo ignorante sim.
Mas ainda assim: é válido questionar se os outros - por outros, entenda-se todos que não compreendam o feminismo - estão recebendo a nossa mensagem direitinho.
O quanto da resistência contrária ao feminismo é má fé? O quanto é apenas ignorância? Como poderíamos nos ajudar?
Eu, particularmente, não faço ideia de qual é a ideologia das Femen. Sério. Não consigo ver um foco nos protestos delas. |
I. O extremismo no feminismo.
Então pensei numa segunda coisa: a questão da garota em questão ter considerado o feminismo como algo extremista. Porém, a única coisa que me passou pela cabeça é que não há a menor possibilidade do feminismo ser um movimento extremista. A questão é muito simples: sendo o feminismo uma luta pela igualdade social e política dos gêneros e sendo que não é possível ser extremamente igual, então a partir do momento que o movimento passar a defender um peso maior para, digamos, o gênero "feminino", ele já se desviará do seu caminho e deixará de se tornar feminismo. Justamente porque abandonou sua premissa básica que é a igualdade.
Por isso que você não pode considerar mulheres que defendem que todos os homens tem que morrer e que a vagina é simplesmente melhor que um pênis como feministas. Elas estão ferindo o princípio básico da igualdade entre os gêneros. Você não pode olhar para as Femen com seu "sextremism" e seu logotipo ameaçador de dois testículos cortados e afirmar que elas são realmente feministas - porque elas estão indo para o extremo oposto da misoginia. Há muitas diferenças entre machismo/misoginia e misandria, convém ressaltar, e você nunca pode dizer que ambos tem o mesmo peso. Mas eu discutirei isso mais adiante.
Veja bem: eu não estou falando de posicionamentos individuais. Diversas mulheres (cis) tem trauma de homens por episódios de violência e preferem se isolar em seus clubes de luluzinha. Preferem ter apenas médicas mulheres, amigas mulheres, contatar apenas mulheres. Algumas até mesmo se servem de algo chamado "lesbianismo político" no qual se envolvem amorosamente e sexualmente apenas com outras mulheres (cis). Elas não estão erradas em adotarem essas posturas para as vidas pessoais delas. Se elas se sentem mais seguras e protegidas dessa maneira, então está tudo bem (no âmbito pessoal, lembremos. Porque há muitos problemas nessa ideologia ao que se refere às pessoas trans, por exemplo, o que não é razoável ignorar). Eu só não acho que seja uma postura a se adotar pelo movimento. Não podemos apenas fingir que homens (cis) não existem, fazer reuniões apenas entre nós e conspirar por uma sociedade que seja dominada integralmente por mulheres. Que não compremos os clichês sobre como um país seria melhor governado por mulheres, porque somos naturalmente mais sensatas e brandas.
(porque não somos. Somos pessoas e apenas isso, assim como homens.)
Então quando vamos pensar no feminismo como um movimento social e político, nós temos que lembrar do princípio básico: igualdade. Se esquecermos disso, deixa de ser feminismo. Se nós nos distrairmos e conversarmos sobre começar a dominar o mundo, vai deixar de ser feminismo. Temos que focar na igualdade - e os meios para obtê-la. Se existe um gênero que está sendo subjugado e oprimido, é nosso papel retirá-lo da opressão. Se as mulheres (cis e trans) sofrem constante violência de todos os lados, são objetificadas e oprimidas, e terrivelmente feridas em toda sua dignidade, então é obrigação nossa lutar para o equilíbrio entre os gêneros. As lutas podem e devem incluir leis especiais (como a Maria da Penha que foca na maior vítima da violência doméstica), direitos assegurados, empoderamento pessoal, etc. Todas essas medidas não servem para "privilegiar" mulheres, mas para que possamos nos igualar - politicamente e socialmente - ao gênero que costuma oprimir: o masculino.
Por isso é impossível o feminismo ser "extremista". Você não pode dizer que não apóia o feminismo afirmando que não gosta de extremismos - porque o feminismo não é extremista. Matar homens apenas por serem homens não é feminista. Berrar que é "sextremist" não é feminista. Considerar que o pênis é o grande mal da sociedade - e achar que seria um mundo melhor se todos os pênis fossem cortados - não apenas não é feminista, mas é extremamente violento não apenas com os homens cis, mas com as mulheres trans também.
Eu gostaria de acrescentar, então, um pensamento: talvez alguém se questione sobre se seria extremista valorizar mulheres. Valorizar o corpo tido como feminino. Valorizar a vagina, amá-la tanto e tê-la em alta importância - assim como as pessoas amam o pênis. Não, não é.
Não quero nunca que a nossa valorização enquanto mulher seja tida como algo extremista. Nós fomos consideradas tão erradas por tantos séculos que é essencial aprendermos a nos amar. Nossos corpos (enquanto mulheres cis) foram considerados errados e incompletos, e nossas mentes tidas como incompreensíveis. Nomes de mulheres foram apagados pela história, às vezes completamente, e mal temos exemplos de governantes, artistas, escritoras, cientistas que sejam considerados tão importantes quanto os homens que fizeram o mesmo. A mulher, historicamente falando, sempre foi subjugada - e é essencial que a gente se retire do nosso papel de vítima. Não somos vítimas. Somos sobreviventes.
O que considero extremismo não é a nossa valorização. Não é ter orgulho do que conseguirmos alcançar. O que considero extremismo é instituir - enquanto movimento social e político - uma política contrária aos homens. Uma política que veja todos os homens como inimigos em potencial e promova uma espécie de guerra de sexos. Eu não vejo o que poderíamos ganhar com isso - nós não vamos vencer em lugar nenhum considerando metade do mundo como inimigos que devemos exterminar.
II. O peso da misandria.
A outra parte é sobre a misandria x machismo/misoginia. Eu confesso, pessoalmente, que a misandria me incomoda em particular. Não a parte de instintivamente se proteger quando se vê em um ambiente repleto de homens - como eu mesma costumo fazer - mas a parte de dizer que "todos os garotos são burros" ou algo do gênero. Mas eu não posso julgar essas garotas que são contrárias ao gênero masculino (e aqui me refiro aos homens cis). Eu não posso julgá-las como erradas, porque embora elas estejam erradas racionalmente falando, ainda assim é uma maneira que elas encontraram de se proteger do mundo. É uma maneira de verbalizarem todo o ódio que sentem da sociedade patriarcal. Porque somos sujeitas à uma série de violências que só ocorre porque somos mulheres. Eu tenho certeza que elas tem pais e filhos e amigos que elas gostam muito do gênero masculino, mas você não pode apontar o dedo e dizer que elas estão sendo tão preconceituosas quanto os homens que verbalizam seu machismo.
Sabe por quê?
Porque é tão torto o equilíbrio entre ambos que não tem nem como afirmar que há justiça nesse argumento. A misandria não é sequer uma característica do feminismo, e sim um posicionamento individual de algumas garotas - que, por acaso, são feministas. É uma reação contra a opressão, baseada em sentimentos completamente compreensíveis de raiva e aversão. É uma generalização, sim, de milhões de homens - e eu compreendo totalmente que haja muitos homens decentes que nunca sequer chamariam uma mulher de vadia, por exemplo (e, curiosamente, os homens que eu encontrei que realmente respeitavam as mulheres eram os que menos se ofendiam com tais generalizações. Porque eles entendiam que não era algo pessoal, e sim uma generalização). Mas a misoginia não é um "comportamento particular". É uma instituição. O nosso Estado, a nossa mídia, praticamente todas as pessoas possuem conceitos de misoginia já gravados em sua mente desde a infância. Os programas de TV, os filmes, as leis, absolutamente tudo é feito já com a misoginia presente. Então quando um homem odeia todas as mulheres, ele não está indo contra a corrente. Na verdade, ele está exatamente seguindo a corrente - que mata mulheres todos os anos graças à leis estúpidas e inúmeros casos de violência.
Veja bem:
Quando uma garota chega e fala que "odeia todos os homens", ela não está reforçando nada. As pessoas já assumem que nem todos os homens são iguais e vivemos em uma sociedade que trata os homens como pessoas com diferentes gostos e idéias. A garota vai estar solitária.
Quando um homem chega e fala que "todas as mulheres são vadias", ele está concordando com os assassinos de mais de 5 mil mulheres que são mortas todos os anos sob o argumento de "defesa à honra". Eu não estou incluindo "violência doméstica", nem "estupro em guerras". Estou apenas falando do caso de "defesa à honra" que mata cinco mil mulheres sob o mesmo argumento de que "elas eram vadias e por isso mereceram morrer". Quando um homem afirma seu ódio às mulheres as julgando como "vadias", "interesseiras" ou quaisquer adjetivo desqualificador, não é original, não é uma reação contra a corrente. É apenas mais um pensamento que faz coro à uma sociedade assassina - e que permite que mais mulheres morram todos os anos.
Por isso que uma pessoa ser misândrica não é ser igual à uma pessoa ser misógina. É extremamente torto uma pessoa alegar que há igualdade entre ambos os comportamentos, porque nem mesmo no nosso ódio, somos iguais.
A outra parte é sobre a misandria x machismo/misoginia. Eu confesso, pessoalmente, que a misandria me incomoda em particular. Não a parte de instintivamente se proteger quando se vê em um ambiente repleto de homens - como eu mesma costumo fazer - mas a parte de dizer que "todos os garotos são burros" ou algo do gênero. Mas eu não posso julgar essas garotas que são contrárias ao gênero masculino (e aqui me refiro aos homens cis). Eu não posso julgá-las como erradas, porque embora elas estejam erradas racionalmente falando, ainda assim é uma maneira que elas encontraram de se proteger do mundo. É uma maneira de verbalizarem todo o ódio que sentem da sociedade patriarcal. Porque somos sujeitas à uma série de violências que só ocorre porque somos mulheres. Eu tenho certeza que elas tem pais e filhos e amigos que elas gostam muito do gênero masculino, mas você não pode apontar o dedo e dizer que elas estão sendo tão preconceituosas quanto os homens que verbalizam seu machismo.
Sabe por quê?
Porque é tão torto o equilíbrio entre ambos que não tem nem como afirmar que há justiça nesse argumento. A misandria não é sequer uma característica do feminismo, e sim um posicionamento individual de algumas garotas - que, por acaso, são feministas. É uma reação contra a opressão, baseada em sentimentos completamente compreensíveis de raiva e aversão. É uma generalização, sim, de milhões de homens - e eu compreendo totalmente que haja muitos homens decentes que nunca sequer chamariam uma mulher de vadia, por exemplo (e, curiosamente, os homens que eu encontrei que realmente respeitavam as mulheres eram os que menos se ofendiam com tais generalizações. Porque eles entendiam que não era algo pessoal, e sim uma generalização). Mas a misoginia não é um "comportamento particular". É uma instituição. O nosso Estado, a nossa mídia, praticamente todas as pessoas possuem conceitos de misoginia já gravados em sua mente desde a infância. Os programas de TV, os filmes, as leis, absolutamente tudo é feito já com a misoginia presente. Então quando um homem odeia todas as mulheres, ele não está indo contra a corrente. Na verdade, ele está exatamente seguindo a corrente - que mata mulheres todos os anos graças à leis estúpidas e inúmeros casos de violência.
Veja bem:
Quando uma garota chega e fala que "odeia todos os homens", ela não está reforçando nada. As pessoas já assumem que nem todos os homens são iguais e vivemos em uma sociedade que trata os homens como pessoas com diferentes gostos e idéias. A garota vai estar solitária.
Quando um homem chega e fala que "todas as mulheres são vadias", ele está concordando com os assassinos de mais de 5 mil mulheres que são mortas todos os anos sob o argumento de "defesa à honra". Eu não estou incluindo "violência doméstica", nem "estupro em guerras". Estou apenas falando do caso de "defesa à honra" que mata cinco mil mulheres sob o mesmo argumento de que "elas eram vadias e por isso mereceram morrer". Quando um homem afirma seu ódio às mulheres as julgando como "vadias", "interesseiras" ou quaisquer adjetivo desqualificador, não é original, não é uma reação contra a corrente. É apenas mais um pensamento que faz coro à uma sociedade assassina - e que permite que mais mulheres morram todos os anos.
Por isso que uma pessoa ser misândrica não é ser igual à uma pessoa ser misógina. É extremamente torto uma pessoa alegar que há igualdade entre ambos os comportamentos, porque nem mesmo no nosso ódio, somos iguais.
III. Porque eu acredito em homens feministas. Ou quase lá.
Eu sei que pessoas que fazem parte de uma classe opressora nunca, nunquinha saberão realmente como é fazer parte da classe oprimida. Mas eu também sei que a interseccionalidade nos permite vivenciar diversos tipos de opressão - e assim como Rowling diz no maravilhoso discurso dela para os formandos de Harvard, a imaginação faz com que a gente possa nos colocar no papel da pessoa oprimida por um tempo e refletir sobre os nossos privilégios. Eu, como uma pessoa cissexual, nunca saberei o que é ser uma pessoa transexual. Mas eu posso, exercitando a minha empatia, visualizar todos os meus privilégios enquanto cis. Bastou eu ler um ou dois posts pessoais de uma pessoa trans para eu perceber que eu sou privilegiada - enquanto cis - porque ninguém questiona a minha identidade de gênero, por exemplo. Eu não preciso de um laudo médico para justificar a minha existência.
Acredito que todas as pessoas possam desenvolver sua empatia - exceto psicopatas por motivos óbvios. Mas eu considero que a sociedade não incentiva isso. Ao contrário: enquanto eu segrego as pessoas para que eu possa dar um nome à quem sofre discriminação e violência e então visibilizar suas existências, a sociedade segrega as pessoas para que elas se sintam tão diferentes a ponto do senso de "ser vivo" se perder. Dar um exemplo mais concreto: as pessoas falam e pensam em gays não como pessoas, mas como criaturas abjetas. E se você vê uma classe dessa maneira, você pode machucá-la, feri-la, discriminá-la e matá-la. Você se torna mais insensível à experiência dela. Para você, aquela pessoa não é um ser vivo com uma história e uma personalidade, é apenas alguém "gay". Você a desumaniza - usando a palavra apenas porque o exemplo se refere à seres humanos, não à outras espécies de animais.
A sociedade faz isso o tempo todo. Não é possível sentirmos empatia por coisas. E então nós segregamos em diversas classes e transformamos essas classes em coisas. Coisas que podem ser violentadas, assassinadas e ignoradas o tempo todo.
Mas se você consegue sentir empatia, você pode conseguir visualizar outras opressões que não ocorrem com vocês. E eu acredito que homens são tão seres humanos quanto as mulheres, e que todos eles tem um cérebro borbulhante. Não acho que sejam uns seres tapados incapazes de pensar. Seria ofensivo pensar dessa maneira. Então eu acredito que os homens são capazes de perceber que existe misoginia e de treinarem a si mesmos para não perpetuarem a misoginia. Eu acho que um homem pode se dizer feminista, se ele for a favor da igualdade - e lutar para isso, em seu âmbito pessoal, inclusive. Aliás, eu acho importante que mais e mais homens utilizem a empatia e a lógica e percebam que serem feministas é o mais razoável a se fazer.
Ainda mais quando você pensa em algo importante: o machismo não afeta mulheres, mas homens também.
O machismo não existe apenas oprimindo as mulheres. Ele também oprime homens - de uma maneira muito, MUITO diferente - mas oprime. Porque quando uma sociedade machista faz uma linha divisória entre o gênero "feminino" e "masculino", atribuindo x personalidade e comportamento para cada um, criando caixinhas imaginárias, ele acaba por sufocar todo mundo. Podemos pensar assim: todos ficam dentro de caixinhas com as nossas classificações. As caixinhas onde ficam as mulheres, as pessoas trans (de forma geral), os homossexuais e bissexuais, os negros, etc, são muito mais apertadas e desconfortáveis. Mas os homens também estão em caixinhas. Elas são maiores e mais confortáveis, e mais altas para que eles achem que está tudo bem, mas quando eles querem sair do padrão de "masculinidade" (por exemplo, quando percebe que gosta de outros homens), então a caixinha se aperta - porque ele está saindo do padrão que a sociedade determinou e que todo mundo deve cumprir.
É muito mais difícil um homem perceber todo o machismo, obviamente, assim como é difícil para pessoas cis imaginarem os percalços que xs trans passam em suas vidas. Mas ser mais difícil não quer dizer que seja impossível.
A característica mais importante para um homem que percebe o machismo e resolve apoiar o feminismo, contudo, não é inteligência nem mesmo altruísmo ou generosidade. É a humildade. Ele deve estar ciente do seu papel e saber que ele nunca, jamais deve falar "mais alto" que uma mulher dentro do movimento feminista. Assim como eu, pessoa cis, jamais devo falar mais alto que uma pessoa trans. Você não pode falar por outra pessoa, porque não pode passar por suas histórias. E sendo você de uma classe privilegiada, então você realmente deve entender que o melhor a fazer é calar a boca e ouvir. Ouvir muito. E ajudar. E nunca perpetuar os preconceitos. E novamente ouvir. Ajude, sim, o movimento. Inclusive, como pessoa de fora, perceba como a mensagem está sendo transmitida e dê alguma opinião sobre como pessoas como você podem entender melhor a nossa mensagem. Mas não fale mais alto, não nos interrompa, não considere que sua opinião é mais importante que a nossa. É assustador, porque você se acostumou a ser ouvido em todo lugar. Mas é importante: se você não entender isso, então você não pode militar junto conosco. É impossível. Você não pode ditar a nossa pauta.
Eu sei que pessoas que fazem parte de uma classe opressora nunca, nunquinha saberão realmente como é fazer parte da classe oprimida. Mas eu também sei que a interseccionalidade nos permite vivenciar diversos tipos de opressão - e assim como Rowling diz no maravilhoso discurso dela para os formandos de Harvard, a imaginação faz com que a gente possa nos colocar no papel da pessoa oprimida por um tempo e refletir sobre os nossos privilégios. Eu, como uma pessoa cissexual, nunca saberei o que é ser uma pessoa transexual. Mas eu posso, exercitando a minha empatia, visualizar todos os meus privilégios enquanto cis. Bastou eu ler um ou dois posts pessoais de uma pessoa trans para eu perceber que eu sou privilegiada - enquanto cis - porque ninguém questiona a minha identidade de gênero, por exemplo. Eu não preciso de um laudo médico para justificar a minha existência.
Acredito que todas as pessoas possam desenvolver sua empatia - exceto psicopatas por motivos óbvios. Mas eu considero que a sociedade não incentiva isso. Ao contrário: enquanto eu segrego as pessoas para que eu possa dar um nome à quem sofre discriminação e violência e então visibilizar suas existências, a sociedade segrega as pessoas para que elas se sintam tão diferentes a ponto do senso de "ser vivo" se perder. Dar um exemplo mais concreto: as pessoas falam e pensam em gays não como pessoas, mas como criaturas abjetas. E se você vê uma classe dessa maneira, você pode machucá-la, feri-la, discriminá-la e matá-la. Você se torna mais insensível à experiência dela. Para você, aquela pessoa não é um ser vivo com uma história e uma personalidade, é apenas alguém "gay". Você a desumaniza - usando a palavra apenas porque o exemplo se refere à seres humanos, não à outras espécies de animais.
A sociedade faz isso o tempo todo. Não é possível sentirmos empatia por coisas. E então nós segregamos em diversas classes e transformamos essas classes em coisas. Coisas que podem ser violentadas, assassinadas e ignoradas o tempo todo.
Mas se você consegue sentir empatia, você pode conseguir visualizar outras opressões que não ocorrem com vocês. E eu acredito que homens são tão seres humanos quanto as mulheres, e que todos eles tem um cérebro borbulhante. Não acho que sejam uns seres tapados incapazes de pensar. Seria ofensivo pensar dessa maneira. Então eu acredito que os homens são capazes de perceber que existe misoginia e de treinarem a si mesmos para não perpetuarem a misoginia. Eu acho que um homem pode se dizer feminista, se ele for a favor da igualdade - e lutar para isso, em seu âmbito pessoal, inclusive. Aliás, eu acho importante que mais e mais homens utilizem a empatia e a lógica e percebam que serem feministas é o mais razoável a se fazer.
Ainda mais quando você pensa em algo importante: o machismo não afeta mulheres, mas homens também.
O machismo não existe apenas oprimindo as mulheres. Ele também oprime homens - de uma maneira muito, MUITO diferente - mas oprime. Porque quando uma sociedade machista faz uma linha divisória entre o gênero "feminino" e "masculino", atribuindo x personalidade e comportamento para cada um, criando caixinhas imaginárias, ele acaba por sufocar todo mundo. Podemos pensar assim: todos ficam dentro de caixinhas com as nossas classificações. As caixinhas onde ficam as mulheres, as pessoas trans (de forma geral), os homossexuais e bissexuais, os negros, etc, são muito mais apertadas e desconfortáveis. Mas os homens também estão em caixinhas. Elas são maiores e mais confortáveis, e mais altas para que eles achem que está tudo bem, mas quando eles querem sair do padrão de "masculinidade" (por exemplo, quando percebe que gosta de outros homens), então a caixinha se aperta - porque ele está saindo do padrão que a sociedade determinou e que todo mundo deve cumprir.
É muito mais difícil um homem perceber todo o machismo, obviamente, assim como é difícil para pessoas cis imaginarem os percalços que xs trans passam em suas vidas. Mas ser mais difícil não quer dizer que seja impossível.
A característica mais importante para um homem que percebe o machismo e resolve apoiar o feminismo, contudo, não é inteligência nem mesmo altruísmo ou generosidade. É a humildade. Ele deve estar ciente do seu papel e saber que ele nunca, jamais deve falar "mais alto" que uma mulher dentro do movimento feminista. Assim como eu, pessoa cis, jamais devo falar mais alto que uma pessoa trans. Você não pode falar por outra pessoa, porque não pode passar por suas histórias. E sendo você de uma classe privilegiada, então você realmente deve entender que o melhor a fazer é calar a boca e ouvir. Ouvir muito. E ajudar. E nunca perpetuar os preconceitos. E novamente ouvir. Ajude, sim, o movimento. Inclusive, como pessoa de fora, perceba como a mensagem está sendo transmitida e dê alguma opinião sobre como pessoas como você podem entender melhor a nossa mensagem. Mas não fale mais alto, não nos interrompa, não considere que sua opinião é mais importante que a nossa. É assustador, porque você se acostumou a ser ouvido em todo lugar. Mas é importante: se você não entender isso, então você não pode militar junto conosco. É impossível. Você não pode ditar a nossa pauta.
Esse post foi relativamente extenso e em um tom mais sério e menos raivoso do que costumo usar. Não sei se fui pontual o suficiente, mas hoje não queria ser agressiva. Uma vez na vida, não queria ser agressiva porque realmente fiquei muito pensativa sobre tais conceitos - e porque sei que diversas feministas discordarão de mim. Não as considero erradas. Essa é apenas a minha opinião e é a maneira como tenho levado a minha vida com as minhas ideologias, e é a maneira como o feminismo funciona para mim. Não é o mesmo com todas - afinal o feminismo é um movimento plural. Se vocês discordarem de mim, por favor, comentem. Se quiserem acrescentar, idem. Eu peço isso à vocês, porque todo o raciocínio que apresentei nesse post não está, de modo algum, completo e finalizado. Não é um pensamento acabado. :)
Observação: Hailey tem um ótimo post sobre a diferença de peso entre "misandria" e misoginia, no site do Transfeminismo. Aconselho a leitura dele :)
Luna, esse post tá ótimo, parabéns! Me lembrou esse também ótimo vídeo, espero que você assista e recomende por aqui (infelizmente, não foi legendado): http://www.youtube.com/watch?v=tnJxqRLg9x0
ResponderEliminarbeijos militantes!
Quero ressaltar alguns pontos: concordo que a misandria é uma reação natural da opressão masculina herdade de milênios. Não há o que querer corrigir quanto a isso, não há como apagar o passado histórico e em tantos casos,uma passado pessoalmente traumático. No entanto, em todo movimento social - vc sabe bem - precisa haver conscientização proveniente de diálogo e discussões não virtuais, mas físicas. Eu acho que a misandria está contaminando o discurso feminista por conta do advento da internet que ao mesmo tempo que contribui muito de forma a expressar e passar adiante a revolta, também tira consideravelmente a responsabilidade da réplica, tréplica e assim por diante...o que prejudica o refinamento dos argumentos.
ResponderEliminarMinha opinião e experiência pessoal com discussões "físicas" e virtuais.
Um texto belo e esclarecedor. Obrigado.
Todos os dias estou falando mais, brigando mais e me impondo mais contra o machismo. Sou Cis (termo que aprendi a pouco tempo, na verdade hoje), casada há 8 anos com um homem mais feminista que eu. Nunca gostei de dizer que eu era feminista pois achava que as pessoas iriam desmerecer minha luta e eu não me via como uma mulher feminista, pois não era extremista, mas quer saber, depois desse texto eu tive a certeza que sou feminista (ponto).
ResponderEliminarHoje, aprofundando-me no pensamento feminista, vejo que essa imagem de feminista que eu tinha na cabeça é tão errada que me dá vergonha. E sim, eu sou feminista!
excelente post! muito bom mesmo! passo um trabalho danado tentando explicar para amigos homens esse tipo de coisa. é assim que eu vejo o feminismo também :)
ResponderEliminarO texto é incrível, mas tenho algumas considerações... Por que uma mulher postar fotos de vaginas e aclamar sua sede por sexo, muitas vezes de uma forma exagerada, não é extremismo. Mas se um homem expõe uma arte endeusando a figura do pênis, ele pode ser considerado grosseiro, assim como a afirmação de uma vontade desacerbada por sexo, pode ser considerada "escrota"?? Afinal, não é por igualdade a luta feminista?
ResponderEliminarOlá luna,
ResponderEliminarEstou criando uma página no facebook para discutir sobre feminismo. Sei que já existem muitas, mas esta tem uma característica um pouco diferente. Ainda é muito cedo para dizer se vai funcionar, mas não custa tentar.
Se tiver tempo, adoraria que desse uma olhada. Qualquer ajuda que puder me dar é bem-vinda.
Pretendia, também, compartilhar este link em minha página, espero que não se importe.
Agardeço a atenção
bando de ratardadas feminista extremistas trouxas
ResponderEliminarhomens feministas existem e eu sou um!as mulheres merecem respeito tmb
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