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domingo, 20 de outubro de 2013

"Não fica natural" e outras desculpas esfarrapadas

Nicki Minaj - fiz esse post pensando em como ela era vista, então...

Quando eu era mais nova, assinava Capricho. E um dia chegou uma Capricho cuja matéria principal de beleza era sobre pintar os cabelos. Como pintar, que cores pintar, sugestões, dicas, etc. E então teve uma enorme tabela de duas páginas que cruzava cores de pele com cores de cabelo "aceitáveis" para aquelas determinadas cores de pele. Havia ainda uma foto de uma celebridade com aquela cor correspondente com o cabelo correspondente quando o resultado era "ok" e um desenhinho de uma bomba quando o resultado não era "ok".

Eu sei que o propósito era "mostrar cores que caiam como ~nasci assim~", mas ainda assim soava terrivelmente errado.

Primeiro porque a distinção de cores me soava confusa, porque eu - que sempre fui descrita como "morena clara" - me deparei com uma foto de Angelina Jolie representando pessoas ~morenas claras~ com a minha cor de cabelo (castanho escuro) e eu totalmente não consegui me identificar com ela. Aí vamos aos detalhes óbvios: pessoas negras não poderiam ser loiras, porque não seria natural (a menos que você tivesse muita atitude!), nem ruivas, e por aí segue. Enfim, restrições de cores capilares baseadas na cor de sua pele. Mas você nem acha isso um problema, certo? Eu tenho certeza que você está acostumada com isso. Todas nós estamos. Eu li Capricho durante toda a minha infância e adolescência, e aprendi de cor e salteado todas as cores de cabelo que me eram permitidas e todas que não, não eram permitidas porque... eu não era branca o suficiente. Eu absorvi esses conceitos. Passei anos da minha vida acreditando neles. Acreditando piamente que pessoas que não fossem brancas feito porcelana nunca poderiam ficar bem com cabelos platinados. Acreditando, inclusive, que cores fantasia caem melhores em pessoas brancas do que em qualquer outra cor de pele.

Eu passei minha vida toda escutando que meu cabelo era problemático. Porque ninguém sabia cortar ele direito e porque eu aprendi, na Capricho (inclusive), que se eu quisesse perfeitos cachos, era legal comprar um baby-liss para definir os cachos! Eu adquiri horror aos salões de beleza não apenas pela minha antipatia natural à lugares do gênero, mas porque simplesmente as pessoas não param de oferecer toda uma série de relaxamentos. Eu perdi a conta de quantas matérias eu li sobre como cuidar dos meus cabelos que começavam com chamadas como "como domesticar/domar/controlar seus cabelos!". Eu cresci ouvindo pessoas distinguirem "cabelo bom" de "cabelo ruim" e, acredite, uma criança sabe perfeitamente qual cabelo é bom e qual cabelo é ruim. Quando eu tinha quinze anos, foi o auge da moda de todas as meninas usarem chapinha e essa, especificamente, nunca aderi - não que passasse ilesa por ela. Eu ouvia coisas sobre como eu "deveria arrumar meu cabelo" que significava "escová-lo, alisá-lo, domesticá-lo". Não que eu não tentasse "abaixar seu volume": eu tentava. Mas meu cabelo simplesmente nunca se adequou à essa norma.

E então mesmo hoje eu vejo pessoas falando sobre que alisamento é uma questão de "praticidade". Porque cabelos lisos são "naturalmente" mais fáceis de se lidar. Porque cabelos crespos são inerentemente problemáticos, difíceis, ruins de se lidar. A textura é considerada complicada, ninguém sabe "como cortar", "não tem muito o que fazer".

Certa vez, esse ano, eu vi em um grupo de cabelos coloridos uma garota de pele morena (palavras dela, não minhas) que perguntava se poderia ficar bem com cabelos de cores diferentes. Não foi a primeira, nem a última a perguntar e a reação, em geral, foi positiva. Houve, porém, uma única pessoa que disse à ela para "pintar com cores frias", porque "cores quentes não ficam bem em peles morenas, como rosa ou laranja". Bem, uma busca na internet, essa linda, confirmou para mim o quão essa menina estava terrivelmente errada.

O negócio é que a menina acreditava que existia cores específicas que caíam bem ou não para uma determinada cor de pele. Talvez algumas pessoas não entendam a relação entre "limitar determinadas cores às peles morenas/negras" e "cabelos crespos serem considerados ruins". Bem, a relação é simples: as duas coisas são diretamente ligadas ao racismo. E... ao capitalismo. Como isso procede? Bem, é extraordinariamente simples. Não é paranóia minha quando falo de capitalismo: não se pode pegar uma opressão e fingir que ela não existe para servir à outra. Simplesmente... não dá. E quando discutimos questões relacionadas à beleza, capitalismo entra MUITO no jogo.

(mas sempre tem alguém de mimimi mandando ir pra Cuba ou defendendo capitalismo com unhas e dentes com argumentos retirados da Veja e, cara, de boa, apenas sai do meu blog)

é natural. ponto. bj. fonte da foto: dailymail
1. Porque não faz sentido limitar cores de acordo com a cor de pele.

Se você quer parecer ruiva natural estilo capa de revista, até faz sentido que as pessoas exijam uma brancura a la Lily Cole ou Marina Rui Barbosa - mas sabe de uma? Existem pessoas negras que são ruivas naturais. Assim como existem pessoas negras que são loiras naturais, sabia? Existem pessoas de muitas cores de pele com muitas combinações incríveis com cores de cabelos incríveis. Talvez algumas combinações sejam mais incomuns que outras - sim, eu sei que pessoas brancas ruivas são muito, muito mais comuns que pessoas negras ruivas (como comprova a minha dificuldade de achar fotos ilustrativas, especialmente em páginas brasileiras. Mas tive um pouco mais de sucesso e descobri, inclusive, que Malcom X tinha cabelos considerados ruivos, ainda que num tom mais escuro, o que me foi surpreendente). Mas o fato é que EXISTE.

E se existe...
... é natural.

Conclusão: se é natural, cabeleleiro, revista, portal de moda, Papa nenhum pode te aconselhar para "não pintar" de loiro porque "não é natural". Pessoas negras e ruivas existem. Pessoas negras e loiras existem. Existem naturalmente e existem independentemente do que você acha delas ou não. Existem lindamente por aí e não precisam provar a existência delas à você. Mas se você precisa de um testemunho em primeiras pessoas, bem, eu já conheci pessoas negras e loiras naturalmente. "Mas pode ser descolorante, Luna": não, não pode, porque elas eram pessoas de menos de dez anos que estudavam em uma escola que minha tia dava aula. Não tinham dinheiro sequer para ir na escola, às vezes, que dirá para um descolorante. Era loiro natural e não precisei ser cabeleleira para saber disso. Mas se isso não te convence, bem, uma busca no Google te convence ;)

O segundo ponto de porquê limitar cores de acordo com a cor de pele é ridículo: isso simplesmente não acontece com pessoas brancas.
Você não vê ninguém falando para pessoas brancas não pintarem seus cabelos de vermelho-Ariel-Princesa-da-Disney. Você não vê ninguém falando para pessoas brancas para não pintarem de rosa ou verde porque "vai ficar estranho". Sim, essas pessoas enfrentam preconceitos e são consideradas "diferentes", mas simplesmente não é na mesma proporção que pessoas negras. Ninguém fala à uma pessoa branca que é ridículo ela platinar seus cabelos até ficarem brancos, e ninguém questiona a "naturalidade" disso - ainda que, naturalmente, pessoas normalmente tem cabelo inteiramente brancos quando a) são albinas b) todos os fios se tornam brancos depois de certa idade. Mas Christina Aguilera é considerada linda e maravilhosa com seus cabelos perfeitamente platinados e Nicki Minaj é considerada estranha e bizarra.

A parte bizarra dessa história é quando se estende para cores completamente diferentes como magenta ou verde-cor-de-mato. Ninguém nasce com cabelos cor-de-rosa, sabe? Seria lindo, mas ninguém nasce. Ninguém tem cabelos naturalmente azuis da cor do mar. Não existem genes que confiram um belo púrpura ou turquesa naturalmente. Isso é inviável. Para obter cabelos nessas tonalidades, é um processo que envolve química. É um processo artificial usando corantes artificiais, criados em laboratórios. Então, cara, pessoas brancas e pessoas negras tem exatamente a mesma probabilidade de terem cabelos fantasia naturalmente que é:

zero.

Fotografia por Rodney J. G.
Mas mesmo assim eu tenho que me deparar com pessoas que acreditam piamente que cabelos rosa "só ficam bem" em pessoas brancas, pressupondo que elas fiquem "mais naturais". Então. Se seu argumento de naturalidade foi pro saco, então...
... sobra o argumento da estética.

E, bem, ele é extremamente vazio porque os nossos conceitos do "o que é bonito e o que é feio" são construídos pela sociedade. Não estou falando do papo de mulheres de cinturinha e homens exalando testoterona numa louca corrida de acasalamento aqui. Estou falando de pessoas brancas serem consideradas bonitas e pessoas negras não. Estou falando aqui de pessoas brancas terem seus diferentes visuais validados e ditos como "bonitos", "diferentes", "ousados" e pessoas negras com exatamente as mesmas modificações visuais serem consideradas "esquisitas", "bizarras" ou (sim, já vi) do "ghetto". Bem, eu acho óbvio que isso é um exemplo de racismo.

Não faz sentido você - sendo uma equipe de redação de uma revista como a Capricho, por exemplo, ou uma pessoa que trabalha em um salão de beleza - afirmar que "pessoas negras não ficam bem com tais cores" porque "não fica bonito". Nem todas as pessoas brancas ficam bem com cabelos loiros e nem todas as pessoas brancas ficam bem com cabelos curtos, mas duvido que você demonstre a mesma relutância, certo? Aposto que você consegue pensar em cinco exemplos de celebridades que usaram algo parecido (e deu certo) e pode tentar dar certo. Mas então você é tão relutante sobre "pessoas negras", ignorando completamente que elas possuem diferentes tonalidades de pele, diferentes traços, diferentes texturas de cabelo e, principalmente, diferentes personalidades. Quando você diz que "pessoas negras não ficam bem com cores quentes", como afirmou a menina que comentei no início do post, você está ignorando a imensa diversidade que existe dentro das pessoas negras. Na real, você está imaginando UMA pessoa negra que, por acaso, não fica bem com um cabelo ~rosa-choque~ e achando que todas as outras são iguais à ela e, portanto, sua ideia se tornaria válida.

Mas sabe de uma?
As pessoas não são iguais.

Você não vê pessoas brancas como iguais uma a outra. Você consegue enxergar diferenças entre Mari Moon e Audrey Kitching. Você consegue imaginar que determinadas coisas fiquem bem em uma e não em outra. Você não diria para elas para "não pintarem seus cabelos de preto porque pessoas brancas não ficam bem de cabelo preto", diria?
Então por que você faz isso com pessoas negras?

Minha irmã que achou a foto lá no Cabelos Coloridos da Depressão, mas não merecem link não porque colocam uma tag horrorosa em todas as fotos como se as fotos fossem propriedades da página e não retiradas de tumblrs gringos rs
2. Porque meu cabelo não é difícil e porque é conveniente vocês acreditarem que ele é.

É óbvio que a indústria da beleza lucra pra caramba. Academias para moldar seu corpo, suplementos, remédios emagrecedores, químicas alisantes, cremes de todos os gêneros, bases, batons, sombras, primers, implantes de silicone, rinosplatias, botox, preenchimento com colágeno, cremes anti-rugas, etc, etc, etc. Você compra revistas que te ensinam dietas milagrosas, você paga profissionais para te depilarem e escovarem seus cabelos, você paga por spa para relaxar e desintoxicar seu organismo, você paga por academia para fortalecer seus glúteos, etc. E tudo, absolutamente tudo, vai girar em torno de como é importante você fazer isso. De como malhar três vezes por semana e fazer as unhas é a mesma coisa de "se cuidar". A mídia - e aqui eu não uso ela como uma entidade malvada, mas como uma palavra para designar revistas, programas de TV e propagandas - vai se esforçar bastante para te dizer que você consumir tudo isso significa que você se ama, se cuida, se protege.

Os argumentos são todos:
"é pela higiene"
"é pela estética"
"é pelo cuidado, porque se você se ama, então você faz isso"

Chega à um ponto que acreditamos que fazer as unhas é a mesma coisa que "cuidar de si". E quando uma celebridade apresenta pelos das axilas não devidamente raspados ou o esmalte descascado, pode ter certeza, vai ter aquele zoom nos dez tablóides tratando o "desleixo" e "descuido" da celebridade como um escândalo, em letras garrafais e piadas maldosas, e pessoas se sentirão escandalizadas, porque é óbvio que uma celebridade tem a obrigação de se manter integralmente impecável e é óbvio que temos o direito de rechaçá-la quando ela foge à norma. Assim como nós também devemos nos esforçar para nos adequar à norma, enquanto possível, e criamos relações problemáticas com determinadas coisas quando não nos sentimos adequadas: como, por exemplo, quando temos problemas com a comida, sentindo culpa em "comer", porque a sensação de "se sentir gorda" é persistente. Você chega à um ponto que começa a odiar seu corpo por ele fugir aos padrões restritos da sociedade - magro (mas perfeitamente saradinho) branco, sem estrias, sem celulite, sem marcas, sem pêlos, etc, etc, etc. E... pronto.

Você percebe o ponto que chegamos aqui?
Nós temos uma sociedade que se odeia.
Nós temos pessoas que odeiam seus próprios corpos. E nós temos pessoas que desejarão se enquadrar seus corpos nas normas, porque se sentem infelizes fora delas. Porque elas vêem as celebridades sendo rechaçadas quando fogem às normas, e elas mesmas são rechaçadas - ignoradas, humilhadas ou mesmo perdem empregos - pelos seus corpos fora da norma. Todo mundo adora falar de como obesidade leva à depressão, mas o que você esperava? Pessoas gordas são frequentemente humilhadas, ojerizadas, ridicularizadas em todos os segmentos da sociedade, não conseguem empregos, são vistas como "preguiçosas" ou "nojentas" e vamos lembrar que os espaços públicos simplesmente não comportam pessoas gordas? Se você encontrar uma pessoa que passou por tudo isso sem sofrer um tiquinho, eu te dou um chocolate. Voltando à questão: nós temos, então:

a) pessoas que odeiam seus corpos;
b) uma imensa e maravilhosa indústria que vai vender à essas pessoas justamente o que elas "precisam" para... se adequarem.

Curiosamente... a mesma indústria que estimula o pensamento de que somos erradas. De que nossos corpos estão errados. E isso vira um ciclo vicioso. Isso é tão lucrativo que você não tem nem ideia. O faturamento líquido de impostos em cima de produtos de beleza, em 2009, chegou a 24,9 bilhões de reais. O Brasil já é o terceiro maior consumidor de produtos do gênero, e a gente perde só para os EUA e Japão. Isso é... apenas impostos em cima dos produtos. Eu não falei de lucros dos produtos. Nem falei das academias, nem dos spas, nem dos salões de beleza, muito menos das clínicas onde se realizam procedimentos cirúrgicos. Você consegue imaginar a dimensão disso?

O que cabelos crespos tem a ver com isso? É simples: não vivemos em uma sociedade apenas capitalista. Nós vivemos em uma sociedade racista, machista, transfóbica, etc, etc, etc. Então os padrões validados e veiculados como "aceitáveis" são... surprise! racistas, machistas, transfóbicos, etc, etc, etc! Nada mais coerente à uma sociedade capitalista e racista do que vender produtos que clareiam a pele em países onde uma cor de pele mais clara é praticamente um status social mais elevado. Nada mais lógico que dizer às mulheres, uma classe historicamente oprimida, que elas precisam se depilar, se maquiar, emagrecerem e tudo o mais para arrumar homens e que isso deve ser sua prioridade na vida.

fonte: jirano
Nada mais conveniente se aproveitar do racismo para afirmarem que nossos cabelos são "difíceis" de se lidar, monopolizar todos os meios de comunicação e então oferecer milhares de alternativas - caras e ligeiramente complicadas - para "domesticar" nossos cabelos. Nunca se esquecer dessas palavras, associando nossos cabelos à "selvageria" e "problema" - palavras associadas às pessoas negras desde que europeus cara-pálidas se deram ao trabalho de escravizar diversos povos africanos. Nada mais conveniente e confortável lucrarem em cima da generalizada desinformação que existe sobre os cabelos crespos. Nada melhor do que pegar determinados cabelos associados à cultura negra (em uma grosseira generalização aqui) e então... embranquecê-los. Porque não basta você encher seus programas de TV e revistas com modelos de cabelos esvoaçantes, você ainda tem que colocar pessoas brancas usando dreadlocks com suas carinhas sorridentes. Você tem que explicar que dreadlock se faz com cera e esquecer convenientemente que dreadlocks são NATURAIS do cabelo crespo.

Não basta você dificultar o acesso das pessoas com seus cabelos crespos às informações realmente válidas de como cuidar dos seus cabelos, você ainda tem que pegar estilos específicos relacionados aos cabelos crespos e vendê-los como se fossem da cultura branca e ocidental. Quer dizer, isso é lucro para quem? Não para mim.

O fato é que quando comecei a pesquisar na internet sobre como cuidar dos meus cabelos, eu percebi que as informações eram muito diferentes do que eu encontrava na mídia tradicional. A verdade é que cabelos crespos não são "mais difíceis", apenas demandam cuidados diferentes. Nós aprendemos que precisamos domesticá-los à base de muito creme, usar baby-liss para definir os cachos e que eles precisavam serem "perfeitamente" cacheados e, na real? Não precisa. Você não precisa nem lavar os cabelos todos os dias, assim como você não precisa penteá-los todos os dias. Eu vejo milhares de meninas reclamando que sofrem com dor porque penteiam por horas e horas, desembaraçando-os, mas você sabia que muitos cabelos cacheados costumam formar cachos mais estruturados quando você não penteia? Você sabia que as toalhas felpudas que usamos normalmente acabam agredindo nosso cabelo, deformando os cachos, e é mais legal você usar uma camiseta simples de algodão que absorve melhor a água e é mais gentil? Não, essas coisas não aparecem o tempo todo na mídia tradicional, não é? Aparecem em portais específicos sobre o assunto, mas não são tópicos correntes em uma revista Cláudia da vida, não é?

Mas interessa à essa indústria tão lucrativa vender esse ideal de "cabelo difícil que precisa ser domesticado". Interessa vender atributos como "volume" como indesejáveis.
Senão...
... o que eles vão fazer com os mais de cem tipos de escova? O que eles vão fazer com todos os produtos que prometem abaixar o volume? O que eles vão fazer com tudo isso que você não vai precisar? Oh... não se pode ter prejuízo nesse mundo. Simplesmente não rola.

A verdade é essa: seu corpo é natural. Seu cabelo é natural. Tudo em você é perfeitamente natural. Nada está onde fora de onde deveria estar: seu peso, seus cabelos, seus olhos, sua cor de pele. Ninguém pode lhe dizer o contrário. Uma sociedade que lhe diz isso só está fazendo isso porque ela lucra em cima do seu desajuste social. Ela lucra em cima da falta de auto-estima de milhares de adolescentes e do medo do envelhecimento de milhares de mulheres. É do interesse da nossa sociedade em que vivemos manter um padrão inatingível de um corpo ideal, nos fazer financiar esse padrão e julgarmos uma a outra por não alcançar esse padrão. Veja bem, quando falo "sociedade", não falo de uma entidade maligna estilo Olho de Sauron. Eu falo de pessoas.

As pessoas que são publicitárias, estilistas, donas de companhias milionárias de remédios de emagrecimento, farmacêuticas que inventam tais drogas, donas de academias e spas de desintoxicação, todas essas: elas também foram afetadas com esse modelo que praticamente se autoreproduz. Visualizá-las como coisinhas malignas que se propõem a destruir o mundo não adianta. Não estamos em uma situação bem x mal. Mas adianta refletir sobre como isso é feito e porquê isso é feito. Vale refletir para quem interessa manter esse padrão e para quem interessa destrui-lo. Vale refletir quem está se beneficiando com isso e quem não está.

E... vale começar a destrui-lo você mesma. (✿◠‿◠)


Ilustração linda para encerrar bem o post. Eu peguei da página Pretty Black Pastel, mas perdi o link, não acho mais a imagem e não sei quem ilustrou :(

10 comentários:

  1. Oi, Luna!
    Primeiramente, parabéns pelo blog! Sou uma leitora oculta, sabe? Sempre venho aqui mas nunca comento... Eu sei, é vergonhoso. De qualquer forma, eu tinha que comentar sobre este texto u.u Você tem exatamente a mesma visão que eu tenho.
    Sou negra e confesso que uso produtos químicos no meu cabelo mas sempre admirei as pessoas que coloriam seus cabelos e tudo mais. Nunca fui muito a favor dessa visão de "essa cor não fica bem em você e blahblahblah"! Devemos nos sentir bem com a cor que quisermos, com o cabelo que quisermos.
    Parabéns pelo texto!

    Abraços.

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    1. Hi, Danni! :D
      Hahaha, eu sei como é, também tenho essa coisa de ler textos dos outros e não comentar, por timidez, por não saber o que falar, etc. Acontece :)

      Não é? Eu também acho que todo mundo deveria usar a cor que quiser, sem se preocupar muito se fica bem ou não segundo regras estúpidas que outras pessoas fizeram. Apenas precisamos nos sentir bem <3

      Obrigada pelo comentário, e abraços pra ti também! ^^~

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  2. Luna, amei este post, amei mesmo!!!
    Eu tb lia a Capricho na minha adolescencia, e até hoje as vezes dou uma olhada ( rsrsr) e o que vc falou é verdade: sempre que falam em cabelos crespos, falam em definir os cachos com babyliss, e achava que era só eu que achava ridículo!
    Tinha uma vez uma reportagem de beleza, "Como cuidar de seus cachos", algo assim. A matéria dava o passo a passo desde a lavagem ate a "secagem". Ok. Lave seu cabelo com produtos p cabelos cacheados, passe condicionador etc etc. Depois de sair do banho , seque com a toalha, etc etc, aplique musse e defina os cachos com babyliss (!!!) E uma OUTRA matéria falava até de fazer escova( deixar liso) pra depois fazer o babyliss. Olha...O.O

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    1. Awn, obrigada! <3

      Eu também dou uma olhada de vez em quando na CH, porque uma amiga minha compra, aí é inevitável dar aquela olhadinha nas matérias (rs). Não mudou nadinha, e é desse jeito mesmo. E é bizarro eles sugerirem baby-liss para cabelos que já são cacheados, considerando que há maneiras muito melhores de se definir cachos... but... Capricho... rs

      Obrigada pelo tempo gasto em comentar <3

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  3. Muito Lindo seu blog! Excelente texto! Me indicaram seu blog ontem e é realmente ótimo!
    Você fala com muita clareza e naturalidade desses temas tão espinhentos e necessários que nos deparamos e questionamos nessa nossa vidinha mais ou menos. Linguagem super acessível sem perder a profundidade que esses temas requerem! Estarei sempre por aqui agora,rs :)

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    1. Awnnnn obrigada <3

      É tanto elogio que nem sei por onde começar a agradecer. Obrigada mesmo, e espero que você venha sempre por aqui. Só lamento não escrever mais, mas me falta paciência para produzir algo mais que dois/três posts por mês :(

      Um beijo pra ti! <3

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  4. Muito bom texto e as reflexões que ele traz. Me irrita essa história de "cachos controlados, domados, sem volume, sem frizz". Quem disse que eles precisam e querem controle? Recentemente um colega me perguntou na frente de muitas pessoas: cabelo ondulado dá trabalho, né? Eu não pensei duas vezes em dizer que NÃO, NÃO DÁ. E outra coisa, que meu cabelo não é ondulado, é cacheado mesmo. E se fosse crespo eu estaria igualmente feliz com ele. Já caí nessa de progressiva, marroquina, japonesa, e tantos outros nomes que dão para os alisamentos, mas logo voltei ao meu cabelo natural, pois é assim que ele é e eu me orgulho dele. Quando era adolescente e também lia Capricho me questionava muito por que os cabelos lisos eram tão exaltados e, com isso, usava meu cabelo amarrado. Sempre. Porque não podia ter volume, porque me incomodava. Sendo que na verdade o que me incomodava era ideia do que vendiam a respeito dele.
    Além de cores de cabelos, modelos e texturas, caímos também em outro problema do que é "adequado" aos negros ou não: tatuagens. Cansei de ouvir que pessoas negras não podem ter tatuagens e conheço tatuadores que dificultam pra tatuar em pessoas que não sejam brancas. Absurdo e ridículo.

    A gente pode usar o que quiser, quando quiser!

    Acho que desabafei. Beijo.

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    1. Foi um excelente desabafo, eu nem tinha lembrado do lance das tatuagens que totalmente procede! É completamente ridículo, é como se as pessoas simplesmente se recusassem a pensar fora da caixinha de "só pessoas brancas são ~estilosas~". Não consigo pensar que isso seja outra coisa que não racismo.

      Eu acho muito chato quando pessoas pressupõem que cabelos cacheados/crespos sejam complicados só por serem assim, por serem "selvagens" e "volumosos", como se essas fossem características negativas. Já tive pessoas que me questionavam a respeito, dizendo que dava muito trabalho cuidar de cabelos crespos, que alisamento era a coisa mais prática do mundo, etc, e - cara - nunca alisei, mas relaxei várias vezes e digo com propriedade: não, não é mais "prático", porque é um cabelo sensibilizado que requer cuidados específicos. Mas povo acha que cabelo liso = praticidade. Só uma desculpa esfarrapada.

      No fim, é tudo racismo. Porque essas restrições só existem para a galera negra, porque não ficará "bem" nelas [quer dizer, não são descoladas o suficiente para usar esses estilos]. E quando existe uma opinião generalizada ruim a respeito das características de uma determinada categoria, bingo: é preconceito, puro e estúpido. No caso, racismo.

      No mais, obrigada pelo comentário <3

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  5. Eu amei tudo que você disse, tudo verdade principalmente a parte de que tal cor de cabelo nao combina com tal cor de pele, eu sempre achei isso racista e já passei por esse problema de querer ter determinada cor de cabelo e uma pessoa chegar pra mim e dizer que não fica bom porque não sou branca. Eu até salvei o link pra mostrar o quanto estão errados e sendo preconceituosos porque existe inúmeras combinações de cor de pele, olhos e cabelos naturais que as pessoas insistem em dizer que não fica natural, mas se existem naturalmente porque pintados ficam esquisitos? Eu simplesmente não consigo entender essas pessoas, e algumas ainda dizem que não são racista, se isso não é racismo então eu não o que a palavra racismo significa.

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  6. Oi Luna, vou comentar pq penso como vc. E recentemente sofri um bullying por isso, sou miscigenada. Sempre tive o cabelo grande e natural, mas resolvi fzer mechas vermelhas qndo surgiram os brancos. E daí vieram vários tons de vermelho, salões diferentes, retoques. Vermelho qse rosa, vermelho desbotado para o laranja. Fui a uma viagem de intercâmbio com outros estudantes, eu sempre me perguntei se para o "branco original estrangeiro" eu seria negra, ou seria branca, ou seria cor de burro qndo foge. Bomm, perguntei a família que me acolheu e eles não souberam dizer, na vdd disseram que eu certamente não era negra, e nem branca. Até ai ok, o bullying mesmo veio de uma menina negra brasileira que estava no grupo comigo, me ridicularizou em público, dizendo que "não falaria com pessoas de cabelo coloorido" me excluindo,qrendo dizer q eu qria ser algo que não era. Eu senti como se não tivesse direito de usar outra cor de cabelo, a não ser a que eu nasci... mas sabe, eu tenho um tio negro e o neto dle nasceu ruivo, inclusive não tem nenhuma sarda, e fica moreno no sol, Deve ser pq vovó era ruiva. E eu nao sou isso, nem aquilo. mas tenho algumas sardas em cima do nariz. só quero usar a cor fantasia ou desbotada -> não como se fosse pra enganar alguém, apenass pq gosto mesmo e pronto

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Se você for amor, tome um chá, sente no sofá, tire uma soneca, fique à vontade que a casa é tua. Se você não for amor, inclusive sendo homofóbico, misógino, transfóbico, racista, etc., eu excluirei sua postagem. Sim, porque aqui é ditadura da minoria e as pessoas que me amam e/ou me lêem não são obrigadas a lerem sua merda. Então pense duas vezes :)