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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Por que você é tão agressiva?



Eu estava aqui refletindo de madrugada sobre o quão cansativo é ficar falando de feminismo, opressão, esse tipo de debate. É exaustivo, é frustrante, é tenso porque você tá mexendo com mulheres marginalizadas, machucadas, feridas. É triste porque você está falando de violência, de cultura de estupro, de invisibilização das negras, trans*, etc. É muito, muito desgastante psicologicamente falando ver notícias sobre mais uma mulher estuprada todos os dias. Eu entendo todas essas pessoas que passam seus dias fazendo blog de moda, falando de decoração, de música, de coisas fofas e legais, porque, cara, ninguém quer falar disso. Eu acho horrível me expor a esse tipo de conteúdo todos os dias, ler comentários da galera do G1, ver o quão ainda falta pra termos uma sociedade bonita e legal. As consequências disso sobre a minha pessoa não são legais. 

O que mais me mata é que não estamos pedindo muito. Cara, estamos? É só um direito. Direito ao casamento civil para todos os gêneros. Direito a não sermos violadas e, caso sejamos, a sermos ouvidas e tratadas com respeito. Direito a não sermos sexualizadas a cada segundo, independente de sermos atrizes ou deputadas federais. Direito a não termos que aturar gente satirizando a cultura de estupro, tratando a nós como motivo de piada. Direito a tanta coisa que é tão, tão básico, mas não parece. Parece que estamos pedindo muito. Os caras ficam lá na bancada sendo um bando de escrotos mimizentos, choramingando que agora são obrigados a verem homem com homem e mulher com mulher e que isso é uma falta de respeito e, cara, minha educação já foi pra puta que pariu.

Não me entendam mal. Eu gosto de ser educada. Acho que educação faz bem e minha mãe me ensinou a respeitar direitinho os outros. Não sei vocês, mas acho super indelicado perguntar dos genitais de alguém ou da vida sexual sendo que você não é amiga íntima. Então eu não pergunto. Posso até morrer de curiosidade sobre uma ou duas coisas, mas eu não pergunto quando sei que aquela pessoa pode não receber bem. Isso se chama educação. Isso se chama respeitar a privacidade dos outros. Assim como fui educada a não sair xingando ninguém e nunca fui uma pessoa de ir nos perfis das pessoas e ficar ofendendo elas. Se vocês não receberem essa educação, posso fazer nada. Mas eu acredito que isso é o básico. O básico do básico.

Porém eu não sou educada nesses casos. Percebam bem: não é que não consigo. É que não sou. É uma escolha minha. Já me criticaram por ser muito agressiva e que as feministas deveriam ser mais amenas, mas o negócio aqui é que ninguém conseguiu seus direitos pedindo com licença. Se Bolsonaro vai ficar gritando pro povo tomar no cu, como já fez, inclusive, não sou eu que vou ficar toda preocupadinha se ele vai ficar ofendido ou não. Jean Willys é muito educadinho, porque é a obrigação dele como deputado e ele tem respeito pelo senso de decoro e etc, mas eu não. Não tenho obrigação de mostrar meus dentinhos e agir como princesa pra gente que é apenas escrota. Eu não tenho obrigação de fazer isso com ninguém. Se tu não tem educação suficiente pra ser respeitoso com outras pessoas, não tem motivo para outras pessoas te respeitarem. 
Sabe aquela frase? "Se quer respeito, dê-se ao respeito"? Apesar da distorção incrível e a frase só ser usada com mulheres que, por acaso, tiram fotos insinuantes e aí ninguém respeita (porque, por motivos obscuros e totalmente loucos, tirar fotos insinuantes é algo que abaixa o valor da mulher. Eu não entendo essa galera que sexualiza qualquer pedaço de pele), eu acho que a frase é muito real. Dê-se ao respeito, cara. Não seja um cretino. Não fique sendo escroto com ninguém não. Porra, abaixa o facho, cala a boca e ouve um pouco. Respeita os outros e o espaço dos outros que aí todo mundo te respeita direitinho. Se Feliciano tivesse um mínimo de bom senso, tinha calado a boca e não falado nada. Se ele entendesse o quão absurdo é ele querer ser presidente da comissão que trata de minorias sendo que ele acha que gay tem mais é que passar por um exorcismo brabo e virar hetero, ele nem tentava virar presidente de nada. Mas ele não tem, não é? Não se pode exigir bom senso de gente assim, porque senão a gente não tinha essa confusão toda, para começar.

Essa história de exigir mais amorzinho das feministas para com seus opressores me soa como o pior argumento de todos os tempos. Por muitos motivos. Primeiro, porque quando um homem chega e fala pra uma feminista que ela não pode ser agressiva, ele está se achando no direito de pautar a luta de uma minoria inteiro. Acontece que as únicas pessoas que podem decidir pelo quê e como devem lutar são as pessoas que fazem parte da minoria. Eu não posso virar para as pessoas trans* e dizer CARA ESSE PAPO DE FICAR LUTANDO PELO NOME SOCIAL É UMA BREGUICE, MANO, LUTEM POR OUTRA COISA, SEI LÁ, SARNEY NO PODER!!!!11!. Eu não tenho esse direito. O movimento trans* que decide as próprias pautas e eu só posso escolher apoiar ou não. É exatamente isso que os homens devem fazer em relação às mulheres, brancos em relação aos negros, etc, etc, etc. Eu acho cafona dizer isso, mas é verdade: só quem experimenta a opressão pode falar sobre a dor que sente. E o quão ela a afeta. Então um cara faz merda e depois se acha no direito que estou sendo muito agressiva, a única coisa que vou fazer é permanecer agressiva.

Você faz merda, você aguenta as consequências.

O segundo ponto e é o ponto que eu considero mais cruel é quando você critica as feministas por elas estarem sendo energéticas (porque, sendo sincera, na maioria das vezes, elas sequer estão com archotes e tridentes pedindo a cabeça dos mascus numa bandeja), você não está sendo original. Você está agindo junto com os caras dos séculos passados que diziam que qualquer alteração emocional na mulher era uma doença. Quando você fica "ui tá de TPM?", você está dizendo que ela não pode ficar furiosa, indignada ou com raiva por motivos legítimos. Quando você culpa os hormônios ou apenas insinua que elas estão loucas, você está tirando todo o valor da reclamação dela. Em suma, você está deslegitimando as reinvindicações dela e a tratando como se fosse uma criancinha que não sabe direito o que quer da vida. E isso você não tem o direito de fazer.

Ninguém tem.

Eu não sou louca. Eu não estou sendo histérica. Eu não estou de TPM. Eu não vou agir como a princesinha dos contos de fada porque você pediu. Sim, estou sendo agressiva, ácida, sarcástica, irônica e destrutiva. E, acredite, se você fala uma merda, eu não tenho obrigação alguma de ser paciente e mamãezinha com você. O Google existe e se você não sabe nem o que é feminismo, eu não vejo o porquê de ter que te ensinar porque você está me oprimindo. Google tá aí. Blogs feministas estão aí. Meus próprios textos estão aí. E você pensa que está sendo original, mas eu vejo suas merdas compartilhadas pelo mundo inteiro cem vezes por dia.

Então cala a boca e ouve.
É a coisa mais inteligente que você faz.














♥ Todas as imagens do post foram retiradas do tumblr fuckyeahsubversivekawaii. Um dia eu falo mais a respeito da misandria (presente nesse tumblr) e racismo reverso, entre outras coisas.

2 comentários:

  1. Respeite para ser respeitado. "Se quer respeito, dê-se ao respeito".
    Falta educação, falta amor, falta compreensão. Falta mesmo é cuidar da própria vida ao invés de cuidar da vida alheia.
    E você está certa. Não tem como não se revoltar.

    Bjs
    http://strawberry-sauce.blogspot.com.br

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    1. Sim, exatamente!
      Se cada um simplesmente tivesse esse conceito de cuidar da própria vida e respeitar todo mundo, não tinhamos tantos direitos tão desrespeitados como são.

      Aí quando nos indignamos com isso, somos as chatas histéricas! Como lidar?

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Se você for amor, tome um chá, sente no sofá, tire uma soneca, fique à vontade que a casa é tua. Se você não for amor, inclusive sendo homofóbico, misógino, transfóbico, racista, etc., eu excluirei sua postagem. Sim, porque aqui é ditadura da minoria e as pessoas que me amam e/ou me lêem não são obrigadas a lerem sua merda. Então pense duas vezes :)